A iniciativa partiu de Alex Gomes da Silva, de 42 anos. Nascido e criado em Santos, o barbeiro se dedica há pelo menos 15 anos em doar tanto o serviço de corte de cabelo quanto a distribuição de sopa a moradores de rua.
Na tarde desta terça-feira (31), porém, Gomes decidiu atender a um pedido de uma amiga, que costuma entregar almoço para o morador de rua registrado no cruzamento das avenidas Washington Luís com Francisco Glicério, no bairro Gonzaga.
“Sabemos que o nome dele é Jovino, e que ele costuma dormir em um albergue aqui da cidade. Já o conhecemos por ele ser fechado, mas foi um dos moradores de rua mais gratificantes de atender”, contou ele ao G1.
O registro feito pela esposa, que também o ajuda nos cortes, ganhou as redes sociais. “Ele não fala, só se expressa por gestos. Mas, aos poucos, foi ganhando confiança e abriu um sorriso quando viu o antes e o depois dele. Isso não tem dinheiro que pague”, conta.
Quando não está se dedicando a ajudar outras pessoas, Gomes atua em seu salão de cabeleireiro, onde também dá aulas de barbearia. Os alunos também participam do projeto, intitulado “Equipe Mãos de Tesoura”.
“Não é só aprender [a cortar cabelo], e sim, ajudar. Fazemos um trabalho bonito, que gera um choque de realidade. Costumamos conversar, perguntar o nome, se têm família, o que fez com que eles fossem para as ruas. Muitos não dizem. Mas, geralmente, é a única conversa que eles têm”, diz.
A iniciativa de oferecer sopa e corte de cabelo a moradores de rua nasceu graças a uma lembrança da infância. Gomes conta que, quando pequeno, ao lado da mãe e de seus cinco irmãos, chegou a passar necessidades.
“Para que a gente não passasse fome, nossa mãe nos levava a albergues, onde tomávamos sopa ou comíamos a comida do dia. Anos depois, graças a Deus, tive a oportunidade de servir àqueles com quem já me sentei”, relembra.
Gomes perdeu a mãe há um ano. “Queria que ela visse isso tudo”, diz ele que, quinzenalmente, ao lado da esposa, Jéssica Daval, e dos alunos de barbearia, distribui a boa ação desde o cruzamento onde encontrou Jovino até a região próxima ao Mercado Municipal, no Macuco.
“Minha esposa fica no carro, onde colocamos as panelas de sopa, e posicionamos cinco cadeiras ao lado do carro, na calçada, onde cortamos o cabelo e servimos a comida. São 300 sopas, 300 pães e 300 sucos, além de cobertores. Preparo tudo em casa”, conta.
Para financiar o projeto, Gomes arca com recursos do próprio bolso, já que nem sempre donos de comércios e outras pessoas aceitam ajudar. “Peço nas redes sociais, mas costumo tirar do bolso. Hoje, tenho a ajuda de um amigo, mas é um trabalho grande”, explica.
Mesmo nobre, ele lamenta que a iniciativa seja vista com maus olhos por algumas pessoas. “Muitos reclamam que estamos ajudando vagabundos. Tem que dar, doar, de coração”, justifica. “Conforme você planta, vai enraizando o bem”, finaliza.